
Não basta ter nove, dez, onze
anos para ser criança. A infância não está nos primórdios de nossa existência.
Não, realmente ela não está (somente) lá!
Nesta semana, acontece a bienal
do livro aqui em Fortaleza, no estado do Ceará. E eu, como um bom amante das
letras, dei uma fugidinha do trabalho e fui me encontrar com minha paixão
maior. O curioso é que, lá, não foram os livros que mais me chamaram atenção. E
sim, uma enorme quantidade de crianças e adolescentes, a grande maioria de escolas
públicas do interior do estado, que faziam uma daquelas excursões anuais tão
sonhadas pelos alunos. Sim, tão sonhadas! Digo isso com propriedade, estudante
de escola pública, lembro-me bem do dia em que fui ao Museu Aeroespacial no Rio
de Janeiro. Aguardei o ano todo ansiosamente por aquele dia... E que dia!
Bom, o novo Centro de Convenções
é realmente algo fascinante, em um espaço gigantesco, salas e mais salas, inúmeros
elevadores e escadas rolantes que sobem e descem gente. Escada rolante... Esse
foi o fator determinante para que eu tivesse naquele dia, plena certeza de que,
infância não é algo cronológico.
As crianças e adolescentes que lá estavam, que
vieram por meio da excursão, por uma “determinação” de seus professores,
passeavam em fila indiana pelos estandes, olhando estante por estante, livro
por livro. Por um instante, achei aquela cena linda, lembrei-me de quando tinha
a mesma idade e saia para as excursões escolares. Acontece que, algumas crianças, criaram,
à sua maneira, sua própria “disciplina”. Saiam da fila, saiam correndo pelo
salão, passeavam pelos andares, desciam, subiam, subiam um pouco mais, refaziam
o percurso, insistentemente, inúmeras vezes... Estas que ficaram subindo e
descendo, em sua maioria, eram jovens que aparentavam ter treze, quatorze,
chegando alguns a aparentar até mesmo uns dezessete anos. Crianças, que pisavam
na escada rolante, que sorriam, olhavam um para o outro, falavam, cochichavam,
às vezes gritavam, riam como quem não tem preocupações. Caminhavam de costas na
escada, naquela escada faziam das mais mirabolantes peripécias...
Diante daqueles jovens, percebi que ser criança não é ter dez
anos. Ser criança é ter pureza, ainda que por um instante, uma pureza
momentânea. Ser criança é não se importar com o que os mais velhos pensam. Ser
criança é fazer amizade em qualquer lugar, com qualquer pessoa, de qualquer
credo, de qualquer etnia, de qualquer classe social. Ser criança é transformar
vias de acesso em local de diversão. Ser criança é depositar nas coisas felicidade
ao invés de preocupações.
Digo logo. Não, eles não estavam deteriorando o patrimônio!
Não estavam fazendo mal uso. Eles apenas desciam e subiam, com brilhos nos
olhos, com olhar de contemplação, maravilhados. Eram crianças, e não tinham a
maldade de um adulto em estragar tudo por onde passam. Eram crianças, e só
queriam aproveitar a excursão.
08/11/2012